Revolta dos malês: Rebelião de escravos muçulmanos em Salvador

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Uma revolta de escravos africanos ocorreu em Salvador, na madrugada de 25 de janeiro de 1835. O movimento envolveu cerca de 600 homens. Tratava-se, em sua imensa maioria, de negros muçulmanos, em especial da etnia nagô, de língua iorubá. Vem daí o nome que a rebelião recebeu: Revolta dos Malês. A expressão “malê” provém de “imalê”, que no idioma iorubá significa muçulmano.

O primeiro alvo dos rebeldes – inicialmente um grupo de 60 homens – foi a Câmara Municipal de Salvador, em cujo subsolo localizava-se uma prisão onde estava preso o velho Pacífico Licutan, um dos mais populares líderes malês. Entretanto, o ataque à prisão não obteve sucesso, devido à reação conjunta dos carcereiros e da guarda do palácio do governo, situada na mesma praça (a atual praça Tomé de Sousa).

Esse primeiro grupo de rebeldes espalhou-se então pelas ruas da cidade, convocando os outros escravos a se unirem a eles. Durante algumas horas, a revolta expandiu-se por diversas regiões de Salvador, traduzindo-se em confrontos violentos entre os revoltosos e as forças policiais. Os malês foram duramente reprimidos e, afinal, vencidos. Mais de 70 rebeldes e cerca de dez soldados morreram nos combates.

Não se conhecem os planos dos revoltosos no caso de uma vitória do movimento. O historiador João José dos Reis, estudioso do episódio, afirma que “há indícios de que não tinham planos amigáveis para as pessoas nascidas no Brasil, fossem estas brancas, negras ou mestiças. Umas seriam mortas, outras escravizadas pelos vitoriosos malês”.

Morte, prisão e desterro

Dezesseis dos acusados pela revolta foram sentenciados à morte, mas, posteriormente, 12 deles conseguiram ter sua pena comutada. Quatro foram executados no Campo da Pólvora, no dia 14 de maio de 1835, por um pelotão de fuzilamento. Os outros malês receberam diversos tipos de punição: prisão simples, prisão com trabalho, açoite e deportação para a África.

Para se ter uma ideia do rigor do castigo, convém mencionar que a pena de açoites variava de 300 até 1.200 chicotadas, que foram distribuídas ao longo de vários dias. O idoso Pacifico Licutan recebeu 1.200 chibatadas e outro condenado à mesma sentença morreu em decorrência disso.

Na época da revolta, Salvador contava com aproximadamente 65 mil habitantes, dos quais cerca de 40 % eram escravos. No entanto, incluídos homens livres e alforriados, os negros e os mestiços representavam 78 por cento da população. De qualquer modo, a identidade étnica e religiosa teve grande importância no movimento. Os negros nascidos no Brasil, por exemplo, não participaram da revolta. Ela se deveu exclusivamente aos africanos islâmicos, em especial de origem nagô.

O medo de uma nova revolta se instalou durante muitos anos entre os habitantes livres de Salvador, bem como nas demais províncias brasileiras. Em quase todas elas, principalmente no Rio de Janeiro, sede do Império do Brasil, os jornais noticiaram o ocorrido na Bahia. Por isso, as autoridades passaram a submeter a população africana a uma vigilância mais cuidadosa, bem como, muitas vezes, a uma repressão abusiva.

Bibliografia

  • João José Reis, “Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835”, São Paulo, Companhia das Letras, 2003.
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