“Pai, quero um smartphone de aniversário” – Gabriel, 6 anos
“Por que eu não posso ir sozinho até a padaria?” – Pedro, 7 anos
Que pai nunca titubeou diante de pedidos ou perguntas como essas? A cabeça começa a girar rápido: Eles têm idade e responsabilidade para isso? E se algo de ruim acontecer? Até que ponto soltar ou proteger?
Ver um filho crescer, amadurecer e tornar-se capaz de decidir seu destino de forma consciente, responsável, saudável é o desejo de todo pai. E, para que isso ocorra, há uma competência essencial que precisa ser cultivada desde cedo: a autonomia. A palavra vem do grego: auto – de si mesmo – e nomos – lei. Ou seja, a habilidade de estabelecer sua própria lei, de tomar uma decisão baseado nas informações disponíveis e em seu juízo moral. Usamos a palavra autonomia também para designar o quanto é possível funcionar e bastar-se sem precisar recorrer a auxílio externo.
Para esclarecer essa floresta de dúvidas pela qual os pais caminham, tateando, desenvolvendo-se junto com os filhos, acertando e errando, conversamos com a terapeuta ocupacional Lara de Paula Eduardo, com a psicóloga e pedagoga Adriana Haasz de Moura Gaunszer e com a fonoaudióloga Luana Magalhães. Elas atendem, de modo interdisciplinar, pais, crianças, adolescentes, escolas e professores noNúcleo Criação, em São Paulo.
“Estimular uma criança a fazer suas próprias escolhas é diferente de deixá-la mandar. Acredito que a baliza que devemos ter em mente é: caso a criança ou adolescente faça determinada escolha, ela ou ele têm condições de arcar com as consequências? E deve fazer isso?”, explica Lara. Por exemplo: uma criança de 3 anos que escolhe o que comer – e muito provavelmente opta apenas por doces ou frituras a cada refeição -, tem condições de saber como isso afetará sua saúde? Se a resposta for não, essa escolha não cabe.
“Isso não significa que, até crescerem, não se pode permitir que as crianças façam opções para ir formando seu repertório”, diz Adriana. “Você pode estimular escolhas orientadas, abrir espaços para a criança decidir dentro do que é razoável e importante para aquela família. Dizer ao seu filho que ele tem de comer algum vegetal e deixá-lo escolher entre brócolis, vagem e couve, por exemplo.” O mesmo ocorre com as roupas. Não dá para deixar alguém de 3 anos sair de short no frio ou de fantasia sufocante no calor. Mas a criança pode optar dentro de uma pequena variedade.
Outra questão para se levar em conta é que cada filho é diferente. Por isso, os pais devem ir observando e aprendendo com as reações de cada um. “Para algumas crianças, lidar com muitas opções gera uma enorme ansiedade, elas não conseguem se resolver e isso em vez de ajudar, atrapalha. Já outras dão conta. É preciso respeitar e valorizar o processo de maturidade de cada uma, a sua singularidade”, diz Luana.
Veja, a seguir, algumas dicas das especialistas para construir com o seu filho o caminho da autonomia. Para ler, clique nos itens abaixo: