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Como responder às perguntas complicadas que toda criança pequena faz

Foto: Cláudia Marianno

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Entre os três e seis anos as perguntas são comuns e não devem ficar sem resposta

Você e um grupo de amigos estão todos juntos num animado churrasco em comemoração ao aniversário de um deles. Em meio ao som de várias conversas, ouve-se também o barulho da criançada, em animada diversão enquanto tomam banho de mangueira. De repente, sua filha de cinco anos deixa a farra para trás e interrompe uma conversa que você vinha tendo com a dona da casa. “Mãe, por que o Arthur faz xixi em pé?”, pergunta com os olhos arregalados. Risos à parte, você pensa rapidamente e responde com absoluta sinceridade: “O Arthur é um menino, como o papai, o titio, o dindo. E eles, os meninos, têm pênis. Já as meninas, como você, eu e a vovó temos vulva. Temos o corpo um pouco diferente”. Na fase entre três e seis anos perguntas como essa são comuns. Aparecem, desaparecem, se repetem mais simples, mais complicadas. Às vezes uma pergunta puxa a outra, para desespero de mães, pais e professores. Elas, no entanto, não devem ficar sem resposta.

“Este é o período do desenvolvimento humano em que tudo parece um enigma a ser decifrado, e é importante, mesmo deixando os adultos “de cabelos em pé”, ser valorizado”, explica a psicóloga, pedagoga, professora de educação infantil e mestranda da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Carla Oliveira, mãe de um menino de cinco anos em plena “fase dos porquês”.
Antigamente, nesta faixa-etária, a origem, a morte, a diferença entre gêneros, divindades e religiões, eram os temas que motivavam mais questionamentos. “Nos tempos atuais, dependendo do universo e do ambiente que a criança vive e dos estímulos que recebe, questionamentos ‘brotam’ à medida que são vivenciados. Podem ser acrescentados à lista de assuntos para estas perguntas, temas como pedofilia, bebidas, drogas, homossexualidade, questões existenciais ou assistencialistas… Basta que as crianças vejam algo na mídia ou que amigos, vizinhos ou primos mais velhos comentem”, diz a psicóloga Deborah Guedes, neuropsicóloga pela Universidade de São Paulo e doutoranda em Ciências da Saúde pela UNIFESP. “Ao responder as perguntas das crianças, é importante que o adulto possa ser franco, pois, muitas dessas questões não têm uma só resposta: vai depender da cultura, crença, valores daquela família”, salienta a psicóloga infantil Lucila de Jesus Mello Gonçalves, mestre em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP).

Independentemente do tema abordado na pergunta de seu filho ou filha, é importante que você considere algumas orientações importantes e que devem ser levadas em conta em qualquer situação na hora de responder:

• “Ao se deparar com uma pergunta dessas de tirar qualquer pai do prumo, descubra o que realmente a criança está querendo saber, antes de lhe oferecer um ‘tratado científico’ sobre o assunto. Ofereça-lhe respostas simples, frases curtas, objetivas, e ouça com atenção o que a criança quer dizer”, orienta a professora Carla Oliveira. “As respostas devem ser adequadas à idade e à maturidade da criança. Se a resposta for muito simples a curiosidade não será satisfeita e se for complexa confundirá a criança. É preciso saber dosar a informação. Aguarde as perguntas, evite antecipar respostas antes de a criança formular a pergunta. Respeite o seu ritmo e não a atropele. Seja verdadeiro e use termos corretos”, completa a psicóloga Deborah Guedes.

• “Não tenha medo de dizer para a criança que não sabe a resposta à pergunta dela. Ás vezes os pais são pegos de surpresa e precisam ganhar tempo, se preparar para responder. Dizer que não sabe a resposta e precisa pensar ou pesquisar, exercita sua humildade e a criança passa a ver este adulto como uma pessoa sincera, falível, real… Estabelece-se uma relação de confiança e honestidade.

• O que não deve acontecer é a enrolação, ou o famoso ‘Não sei e pronto!’ ou ‘É assim porque Deus quis!’ A criança percebe quando está sendo enrolada pelos adultos (pais ou professores). E se ela perguntou, merece ser satisfeita na sua curiosidade. Por que não ir juntos pesquisar? Ou dialogar a respeito?”, sugere Déborah Guedes, neuropsicóloga pela Universidade de São Paulo e doutoranda em Ciências da Saúde pela UNIFESP. “Cada resposta depende muito da família e da disponibilidade do adulto em relação às questões feitas pelas crianças. Nesse sentido, não tem certo ou errado”, afirma a psicóloga infantil Lucila Gonçalves.

• Diga sempre a verdade. “Certa vez uma criança, cuja tia havia morrido, me perguntou se ela iria morar dentro do caixão. Para ela, com quatro anos e ainda em uma fase cognitiva de pensamento concreto, não se tratava de nenhuma questão religiosa ou espiritual, e sim daquilo que ela havia visto e vivenciado”, lembra a professora Carla, de Campinas (SP).

• As crianças costumam criar suas próprias teorias sobre sua origem e sobre a sexualidade. “É super comum, por exemplo, na escola, quando um menino vê os genitais de uma menina, pensar que ela tinha um pênis e o perdeu. Eu, como professora de educação infantil, já presenciei inúmeros exemplos como este”, conta Carla Oliveira. Frente a esta situação, diz a professora, cabe ao adulto explicar com naturalidade as diferenças corporais. “Chamar sempre os genitais pelos nomes corretos, e não colocar apelidos. Pênis ou vagina, nada mais são do que partes do corpo, assim, como mãos e pés. Portanto, devem ser nomeados”, afirma. “Muitas vezes a vergonha, o pudor, o tabu por determinados temas são dos adultos, e não das crianças, que estão apenas em uma fase de descoberta e curiosidade”.

• Jamais brigue com uma criança por ela questionar algo. “Ao perguntar, ela está elaborando hipóteses, organizando o pensamento. E a maneira pela qual os adultos o outro lado da relação reage frente à curiosidade das crianças, pode tanto incentivá-las, quanto reprimi-las e prejudicar posteriormente, por exemplo, com relação à aprendizagem formal, que vai exigir delas pensamentos mais elaborados”, explica a professora Carla Oliveira. “Em qualquer abordagem, seja ela psicanalítica, cognitiva-construtivista ou interacionista, se a criança é barrada por adultos em suas descobertas ou desmotivada em suas pesquisas e experimentações, poderá sentir-se desvalorizada e perder a vontade de descobrir coisas novas. E então, por medo ou insegurança, poderá parar o seu processo de aprendizagem”, conclui a psicóloga Deborah Guedes.

A seguir, veja alguns exemplos de perguntas feitas por crianças entre três e seis anos de idade e saiba como respondê-las com a orientação de especialistas ouvidos pelo Educar Para Crescer. Mas lembre-se: são apenas sugestões que cada família, dependendo de seu contexto social e cultural, poderá adaptar ou apenas usar como inspiração:

 

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